23 dezembro 2012

Ladrão de Almas, por Alma Katsu.

Postado por O Poeta Morre na Folha dia 23.12.12
 
Skoob
Onde comprar: Submarino| Saraiva|
Editora: Novo Conceito.
Páginas: 432.


“Ladrão de Almas” não é um livro fácil de ser absorvido. Corrói até a última gota. Não é um texto que você lê e vira as páginas com aquela alegria de ter lito o que leu, ter sentido o que sentiu. Vou falar com franqueza: é um livro oito ou oitenta. Ou adora ou odeia. Livro absolutamente adulto, conteúdo adulto, não recomendo para uma criança nem para quem deseja ter aquele cenário de “pássaros, corações e rosas” o tempo inteiro. Não é nada disso. O amor tratado no livro é egoísta, bruto, obsessivo, exagerado, que não dá pra saber de onde vem e para onde se leva tamanho sentimento. Há cenas extremamente absurdas, no sentido de que exige muito do leitor para lê-las. Não que seja ruim, pelo contrário, não é.


Tive a impressão de estar diante de “O Morro dos Ventos Uivantes” de novo, ser levada para aquele ambiente, para aquelas florestas, aquele trabalho escravo, de senhor e senhora, de castas, de casamento arranjado, de amor proibido e escolhas absurdas. Muitas coisas do livro já entraram na lista de “abomináveis” em nosso mundo, como o aborto. Naquela época era a única hipótese quando se engravidava fora do casamento. Romance histórico e eu ADORO, absolutamente ADORO história de época! Vestidos de gala, coquetéis, olhares furtivos, toda essa sensualidade… Mas, não, não para por aí.


Ouso dizer que não é um livro para qualquer um. Repleto de ação, e apesar de ser arquitetado com base em algo sobrenatural, não tenho a menor dúvida de que foi um livro criado para aflorar o desespero humano, para testar, instigar. Enxerguei um pouco de mim na protagonista, essa coisa de amar mais, de se entregar, de fazer TUDO – não importa o que seja – por alguém. Ir além do limite. É claro que, em certos casos, ela extrapola um pouco. Gostei do modo como a autora desenvolveu o enredo, levando em conta que é apenas o primeiro. A apresentação dos personagens também fluiu, mas devo confessar que a Lanore me irritou um bocado. Queria dizer: "pelo amor de Deus, menina, enxerga o que esse homem está fazendo com você!" Com diálogos bem construídos, acima de tudo, críveis, torna-se
 impossível não sentir na pele, não refletir, não sentir um tapa na cara e ainda receber algumas frases que causam impacto! 


“… o amor, afinal, é fé, e toda fé um dia será testada.”

Tanto os personagens femininos quanto os masculinos são fascinantes e exóticos. De culturas, lugares, datas diversificadas. Todos unidos em desgraças, dramas e em um caminho sem volta. A autora mantém o mistério de cada pessoa de tal forma que nem o leitor sabe em quem Lanore pode confiar; talvez nem em si própria. Acho que no fim ela confiou demais em seu coração e foi traída todas essas vezes. Foi traída de todos os lados. O final é uma chama de alívio, nunca senti tanto, tanto, tanto alívio pelo sorriso de um personagem… Acho que foi brilhante. Mas é impossível, leia bem, é impossível fechar o livro com esse mesmo sorriso. Fechei o livro com um peso no peito, aliviada pela maneira como terminou, mas triste e chocada com a carga de cada palavra.

Em resumo: eu adorei. Não espere um romance bonitinho, cor-de-rosa, não espere isso pela sinopse ou pela capa do livro. Não espere nada, francamente. Conserve a sua fé o máximo que puder e tenha certeza de que ela será testada a todo momento nessas páginas.




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